Quem já fez um treinamento comigo ou já participou de alguma palestra, pode ter certeza que durante esses momentos ouviu uma música do artista Brian Eno, pelo qual expresso a minha paixão devido ao respectivo trabalho feito, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, quando esteve aqui no Brasil na Bienal em São Paulo.
O artigo que escolhi para dividir com vocês, foi escrito pelo jornalista Jon Pareles do New York Times, e traz 15 obras essenciais deste grande mestre da música ambiente.
Confira as 15 obras essenciais do mestre da música ambiente, Brian Eno
Um tempo amorfo, inconclusivo, desestruturado, com maus presságios, tédio, interlúdios fugazes de paz ou reavaliações. É o que a covid-19 tem provocado em muitas pessoas – e é um estado mental para o qual o vasto catálogo gravado de Brian Eno foi preparado desde que ele popularizou o termo “música ambiente” na década de 1970. Os dias e noites monótonos de quarentena oferecem oportunidade de revisitar – ou conhecer – a música sintetizada dele.
Eno tem outras habilidades. Nos quatro álbuns solos dos anos 1970, depois de deixar a Roxy Music, dominou totalmente a estrutura da música rock com canções cerebrais e sons instrumentais distorcidos. Os álbuns são joias, particularmente Before and After Science, de 1977.
Ininterruptamente, produziu discos nas décadas seguintes. E sua colaboração, em 1981, com David Byrne, em My Life in the Bush of Ghosts – criando samples vocais a partir de fontes internacionais e transformando-os em trilhas embaladas por ritmo, prontas para clubes –, abriu novas portas para a dance music.
Mas quase sempre Eno canalizou os impulsos pop para a produção e colaborações com U2, David Bowie, Talking Heads, John Cale e, recentemente, Karl Hyde, do Underworld. Grande parte de sua obra é instrumental, como as músicas selecionadas aqui – apropriadas para orquestrar este momento intranquilo.
Segundo ele relata, uma circunstância médica o levou a pensar em música como apenas mais um elemento de um ambiente mais amplo. Quando ficou imobilizado por causa de um acidente de carro, um amigo que o visitou deixou uma música tocando no aparelho de CD, que ele não conseguia alcançar, e o volume era tão baixo que se fundia com os outros sons da sala. Endo acabou por ouvir atentamente todos aqueles sons, o que lhe deu a ideia para seu álbum de música ambiente, de 1975, chamado Discreet Music. Logo Eno estaria apostando nesse gênero que, desde então, foi popularizado por inúmeros compositores. Abaixo, alguns de seus melhores trabalhos – são faixas longas com frequência que oferecem diversão numa noite de insônia.
The Heavenly Music Corporation 1 (Fripp & Eno, 1973). Eno e Robert Fripp (guitarrista do King Crimson) fizeram experiências com looping no início dos anos 1970 que, voltando à era do analógico, envolvia passar uma fita por dois gravadores para misturar a gravação do primeiro com a reprodução do segundo. O looping cria um ritmo pulsante em The Heavenly Music Corporation 1, liderado por solos de guitarra que agitam e depois se entrelaçam, voltando a vibrar com força. Nota: embora os serviços de streaming dividam em faixas, vale a pena ouvir o álbum todo sem interrupção.
Discreet Music (1975). A música, título do primeiro sucesso de Eno, se repete e se propaga por mais de meia hora, com duas notas interminavelmente recorrentes e temas de quatro notas que flutuam num banho amniótico de consonâncias. O som eletrônico agudo sugere flautas tocadas por músicos que jamais param para respirar.
1/1 (1978). Eno cravou oficialmente o termo “ambiente” com Ambient 1/Music for Airports, um LP com quatro faixas que exibem diagramas de como seus loops se cruzavam. A faixa que abre o LP, intitulada 1/1, creditada a Eno, Robert Wyatt (piano) e Rhett Davis, poderia estar completa nos seus primeiros 20 segundos: uma frase de piano respondida por seu acorde tônico e tudo se resolvia. Mas, depois de uma pausa, a frase se repete e se estende, junta-se a outros temas e notas reconfortantes em outros timbres, cada um pausando e retomando seu próprio ritmo calmo.
The Chill Air (Harold Budd e Brian Eno, 1980). Para Ambient 2: The Plateaux of Mirror, Harold Budd improvisava em pianos que Eno tratava eletronicamente: alterando tonalidade, inserindo ressonâncias, acionando sintetizadores. Em The Chill Air ele sobrepõe imagens e premonições que vão sutilmente se revelando, à medida que Budd faz contrapontos comedidos.
The Lost Day (1982). No álbum Ambient 4: On Land, Eno evoca paisagens incorporando sons naturais, colocando a música fora do estúdio. The Lost Day insinua rajadas de vento e o som metálico de boias de sinalização distantes que servem de guia em um porto traiçoeiro: frases dramáticas, como de um violoncelo, surgem e se afastam como se engolidas por neblina.
An Ending (Ascent) (Brian Eno com Daniel Lanois e Roger Eno, 1983). Grande parte de Apollo: Atmospheres and Soundtracks é uma vista lunar esparsa e sem ar. Em comparação, An Ending (Ascent) é exuberante: acordes lentos em escala maior, ligeiramente imprecisos e ofegantes que sugerem um ritual miniaturizado, como uma procissão em gravidade reduzida.
Lanzarote (1992). Um mau pressentimento e uma inquietação inevitáveis persistem o tempo todo em The Shutoy Assembly, que talvez seja o álbum mais sombrio e dissonante de Eno. Lanzarote extrai suspense do que, em perspectiva, deveria irradiar estabilidade. Na maior parte do tempo, uma única nota surge em tonalidades variadas do teclado em oitavas diferentes, altas e baixas, do baixo ao piano solitário e os distantes sobretons sugerindo um órgão e uma orquestra. Mas outras notas prolongadas flutuam para disputar e deslocar o centro tonal, de modo que não existe lugar de descanso seguro.
Neroli (1995). Com 57 minutos, é um exercício de austeridade: uma nota de baixo fixa toca irregularmente por trás de uma frase lúgubre de teclado que para e inicia, perambulando em uma faixa pequena e circunscrita e numa sequência de tons vagamente asiáticos. No fundo, outras tonalidades vão surgindo. Eno intitulou de Music for Thinking IV, sugerindo que não seria uma música para entreter.
Transmitter and Trumpet (Brian Eno e Jah Wobble, 1995). Eno compôs música para um filme sobre o cineasta Derek Jarman e decidiu que as faixas não eram consistentes o bastante para um álbum. Assim, enviou as composições para Jah Wobble, baixista do Public Image Ltd, que as refez numa colaboração discreta com Eno. Transmitter and Trumpet começa com uma frase de baixo enérgica de seis compassos que aparece e desaparece e irradia num mundo de influências: orquestras, sons eletrônicos, Marrocos, Índia, África Ocidental. E, então, as oculta em numerosas sobreposições estáticas.
Calcium Needles (Brian Eno, Jon Hopkins e Leo Abrahams, 2010). Eno compôs Small Craft on a Milk Sea com Jon Hopkins, DJ e produtor, e Leo Abrahams, que toca guitarra e outros instrumentos. O álbum é uma mistura de melodias longas com outras mais abstratas, como Calcium Needles. A faixa convida à vertigem, acompanhando sons de sinos que desaparecem num abismo sonoro profundo.
Marsh Chorus (Tom Rogerson com Brian Eno, 2017). O álbum Finding Shore é uma colaboração com o tecladista Tom Rogerson (Three Trapped Tigers). Ele improvisava no piano e Eno manipulava os sons. O piano soa mais ou menos natural na maior parte do álbum, mas, em Marsh Chorus, Eno transforma suas tonalidades num híbrido de harpas e carrilhões e transforma algumas notas em loops persistentemente ressonantes. Há sons de pássaros também.
Reflection (2017). A quase imobilidade permanece pela maior parte do tempo em Reflection. É uma canção generativa, com um formulário que inclui um app para iOS –
New York Times, jornalista Jon Pareles