Um conto para refletir – como você está percebendo o momento atual?

Estamos nos aproximando do final de semana e nada mais apropriado do que começar o dia com uma boa leitura. Algo que nos inspire e nos faça refletir. Em um mundo onde a palavra solidariedade e atitudes solidárias são a cada dia mais e mais relevantes, trago para vocês a releitura que fiz de um antigo conto de origem judaica que está no meu primeiro livro “Invenção de Palavra”. Este conto é sobre percepção de um homem que teve a oportunidade de conhecer o céu e o inferno. Boa leitura!


Conhecendo o Céu e o Inferno*

Era uma vez um homem que tinha muita fé em Deus. Certo dia, em consideração a sua enorme fé, o homem recebeu um grande presente do Criador: o direito de conhecer o Céu e o Inferno. A felicidade adentrou em seu peito. Deus era algo vivo dentro do seu coração.

Deus o levou primeiro ao Inferno. Quando chegou lá, ele tomou um susto enorme. O Inferno era um imenso salão onde havia várias mesas e, sobre essas mesas, comida do mais variado tipo e qualidade. O homem notou também que no Inferno tinha muita gente. Para o seu espanto, essas pessoas possuíam as mãos tortas, viradas para trás.

Durante todo o tempo que esteve por lá, observou que essas pessoas ficavam se digladiando, disputando entre si para ver quem pegaria primeiro os alimentos que estavam em cima das mesas. Aqueles que conseguiam pegavam-nos, mas de nada adiantava, pois não podiam levá-los à boca, por causa das mãos. No Inferno, as pessoas ficavam constantemente lutando e passavam a eternidade agonizando de fome em frente a uma mesa farta de comida.

Após a passagem pelo Inferno, Deus levou o homem para o Céu. Ao chegar lá, tomou um susto ainda maior! Isso porque o Céu era muito parecido com o Inferno: um imenso salão onde havia várias mesas e, sobre elas, comida de todo tipo e qualidade. E para sua surpresa, no Céu também tinha muita gente e todas as pessoas também possuíam as mãos tortas.

Então, qual era a diferença entre o Inferno e o Céu?! – indagou-se.

A diferença é que, ao contrário do Inferno, no Céu ninguém passava a eternidade agonizando de fome em frente a uma mesa cheia de comida. As pessoas, que possuíam as mãos tortas, em vez de se confrontarem, pegavam calmamente os alimentos e os levavam à boca dos colegas ao lado, alimentando-os. Todos faziam isso, satisfazendo as necessidades uns dos outros, trazendo harmonia a todas as pessoas presentes.

O homem então compreendeu que, muitas vezes, a diferença entre estar no céu ou no inferno é a preocupação legítima que a pessoa tem com aqueles que estão ao seu lado. É a compaixão. É aquele amor desprovido de qualquer interesse, que faz tão bem para quem recebe e, acredite, muito mais para quem doa.

*Extraído do livro Invenção de Palavra – Contos de Sabedoria, de Alexandre Camilo